Missionário negro, compositor, médium, curandeiro
também conhecido como médico dos pobres. Nhô João, nasceu no dia 16 de
maio de 1858, na fazenda dos Camargo Barros, bairro dos Cocaes em
Sarapuí/SP, faleceu no dia 18 de setembro de 1942 na cidade de Sorocaba,
filho de Francisca, escrava de Luís de Camargo Barros e de pai
incógnito, batizado na Igreja Matriz de Nossa senhora das Dores de
Sarapuí. Como escravo cresceu na fazenda em que nascera, herdou o
sobrenome da família Camargo Barros, analfabeto não teve acesso à
educação institucional, veio para Sorocaba logo após a abolição da
Escravatura, 13 de maio de 1888.Trabalhou em Sorocaba como cozinheiro
para Manuel Lopes Monteiro, e também para a família de Inácio Pereira da
Rocha. Em 1893, alistou-se como soldado voluntário, no batalhão dos
Voluntários Paulistas, deu baixa em sua carreira militar em 1895, quando
a Revolução Federalista terminou, passou a trabalhar na lavoura em
Pilar do Sul, lugar onde conheceu Escolástica do Espírito Santo, sua
esposa. Voltou para Sorocaba em meados de 1890, época em que Sorocaba
fora atacada pela epidemia de febre amarela o que fez o casal abandonar a
cidade e mudar-se para o bairro da Ilha, em Salto de Pirapora. Após
cerca de cinco anos de convivência matrimonial vieram a separar-se por
incompatibilidade. João de Camargo retornou à Sorocaba para recomeçar a
vida, trabalhou em vários empregos para sobreviver desde o campo
trabalhando na lavoura a olarias fazendo tijolos e telhas.
Recebera
influência na prática de curandeirismo e na religiosidade africana com
sua mãe, Nhá Chica, de sua sinhazinha, Ana Teresa de Camargo a iniciação
ao catolicismo e do padre João Soares do Amaral os ensinamentos através
de seus sermões, pois o conhecera ainda quando era adolescente e lhe
tinha em grande admiração, sua religiosidade sincrética formou-se a
partir do catolicismo popular, participando nas Festas em devoção aos
santos católicos a que se homenageavam na Casa Grande nos dias sagrados,
bem como do aprendizado que adquirira com sua mãe.Desde 1897
iniciara-se no caminho do misticismo, acendia velas, rezava ao pé da
cruz e já praticava a cura em algumas pessoas. Em 1905 seguindo seu
percurso pela Estrada da Água vermelha, cumpria a sua obrigação junto a
Cruz do menino Alfredinho, em casa meditando por volta da meia-noite,
percebeu que fenômenos estranhos como murmúrios, luzes, ventos entre
outros sinais ocorriam a ele, fazendo-o muitas vezes a ser tomado como
louco. Entre as vozes que ouvia, a mensagem para que parasse de beber
era clara, uma vez que, segundo a voz que lhe falava o álcool o impedia
de receber a missão designada, além de lhe estragar o corpo.
Em
1913 foi processado judicialmente acusado de praticar o curandeirismo.
Absolvido e para se proteger de perseguições criou em sua Capela a
Associação Espírita e Beneficente Capela do Senhor do Bonfim,
reconhecida como pessoa jurídica em fevereiro de 1921. Em 1915, fundou a
Corporação Musical São Luís, composta por vinte e oito músicos, sendo
muitos deles os que animavam os cordões carnavalescos da nossa cidade,
visto que apresentavam –se em festas religiosas e profanas. Seus
maestros foram Francisco Dimas de Melo, Salvador Elisário, Pancrácio
Inocêncio de Campos, e Avelino Soares.Sua fama percorreu o mundo, foram -
lhe dedicadas poesias, composições musicais e desenhos. João de Camargo
foi tema de várias dissertações de mestrado, biografado por inúmeros
escritores, pesquisadores e historiadores entre eles Antônio Francisco
Gaspar, Florestan Fernandes, Genésio Machado, Roger Bastide, José
Barbosa Prado, Aluísio de Almeida, Paulo Tortello, Rogich Vieira, Prof.
Bene Cleto, Alcir Guedes, Antônio Carlos Guerra da Cunha.Também sobre
João de Camargo o jornalista Plínio Cavalcante publicou reportagem na
revista semanal O Malho, Rio de Janeiro em 1934 e na Europa o Corriere
Dela Sera publicou reportagem em 1922, em 1995 foi publicada sua
biografia e um Espetáculo Teatral cujos autores Sônia Castro e Fernando
Antonio Lomardo tinham como intenção principal investigar O Homem – João
de Camargo. Em 1999 os pesquisadores Carlos de Campos e Adolfo Frioli
publicaram o livro “João de Camargo – O nascimento de uma religião de
Sorocaba”, sendo o tema principal “o preto velho e bom da Água vermelha”
uma vez que, Nhô João foi uma referência de fé popular nesta cidade.
Neste mesmo ano o pesquisador Carlos Carvalho Cavalheiro também
dedicou-lhe algumas páginas de seu trabalho sobre o Folclore em Sorocaba
– Milagres de Nhô João de Camargo.
Após
sua morte a Capela Bom Jesus do Bonfim ficou fechada durante cinco anos
por questões judiciais, Escolástica do Espírito Santo Maduro, sua ex-
mulher apareceu requerendo sua parte no espólio.O túmulo de João de
Camargo é uma réplica da Capela Bom Jesus do Bonfim, levantada sob
responsabilidade de um de seus devotos, João Massa em 1948. Seu túmulo é
visitado por um número incontável de devotos e simpatizantes,
principalmente no dia 02 de novembro – Finados.
Saiba mais: http://www.joaodecamargo.com.br/
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